O infamiliar, a literatura fantástica e a teoria psicanalítica da angústia
Palavras-chave:
Infamiliar, literatura fantástica, psicanálise, angústia, narcisismoResumo
Inspirado na premissa de que a definição do fenômeno do infamiliar (Das Unheimliche) preparou a transição da primeira para a segunda teoria freudiana da angústia, o presente artigo interroga a conexão entre esses dois momentos de conceituação e a importância da referência à literatura fantástica para a sua articulação final. Defende-se que o comentário freudiano do conto de E. T. A. Hoffmann busca isolar na ficção literária as vias por meio das quais o infamiliar é evocado no leitor. Relaciona-se daí a eclosão desse sentimento a uma forma específica de modulação da angústia: originalmente um processo automático e inespecífico, a angústia se torna um sinal de ameaça à integridade narcísica do Eu. Essa mudança é um dos fatores que leva a proposição da segunda tópica. Posteriormente, as categorias freudianas de angústia e infamiliar participam da definição da literatura fantástica no campo da teoria literária, contribuindo para a sua distinção de outros territórios literários próximos, como a literatura de terror, de suspense e policial. Ao final, sugere-se que a problematização dos avatares da angústia na literatura fantástica pode contribuir para o desenvolvimento da investigação metapsicológica do infamiliar.