A noiva do Diabo: a psicanálise entre o cinema e a história
Palavras-chave:
Noiva do Diabo, Psicanálise, Cinema, História.Resumo
O presente toma por objeto o filme “A Noiva do Diabo”, de Saara Cantell, baseado nos julgamentos das bruxas de Aland na Finlândia, em 1666, sob uma perspectiva lacaniana em interface com a historiografia. Este trabalho visa a estabelecer pontos de interlocução entre obra cinematográfica, fatos históricos e o Zeitgeist medieval. A produção artística, para Freud e Lacan, sempre permitiu entrever o objeto de uma maneira distinta. A pesquisa foi do tipo qualitativa, via método exploratório e revisão bibliográfica de artigos, livros e textos em psicanálise e História. Inicialmente, foram tecidas considerações sobre a noção de heresia, que se opõe ao “para todos” enquanto proposição universal. Com a ótica analítica, foram avaliados certos procedimentos jurídicos da Igreja contra os ditos hereges. Além disso, revisitou-se fragmentos de documentos históricos, com o fim de trazer a lume estruturas misóginas próprias da subjetividade inquisitorial. Para tanto, recorreu-se às categorias significante-significado, à cinemato-grafia – no que ela joga com um real ao projetar em tela – e à dialética entre o criador e sua obra, tratada por Lacan quando aborda, no seminário da Ética, o catarismo. Posteriormente, considerando-se a tábua da sexuação, foi examinada a questão do gozo feminino, temática presente no filme e sinalizadora de uma alteridade veementemente rechaçada no curso dos tempos. Por fim, considerou-se algumas passagens do Malleus Maleficarum, concluindo-se que o real do gozo e da pulsão se fazem elementos trans-históricos, ao passo que a história, enquanto construção significante, se aproxima da verdade. O ódio às mulheres, constantemente reiterado no Livro O Martelo das Bruxas, reflete a defesa do tout homme contra a singularidade do sintoma.