Incidências da dimensão de musicalidade da voz em relação à transferência na clínica psicanalítica
DOI:
https://doi.org/10.69751/arp.v14i28.5648Resumo
Este trabalho propõe uma aproximação entre a dimensão musical da voz e a clínica psicanalítica, articulando os campos da música, da voz e da psicanálise a partir da escuta de psicanalistas de orientação lacaniana. Com foco na musicalidade da voz e sua implicação na transferência, adotou-se uma abordagem qualitativa e exploratória, fundamentada no método de amostragem em bola de neve e psicanalítico. Foram realizadas entrevistas com quatro psicanalistas, cujos relatos clínicos revelaram como a voz – em seus aspectos rítmicos, sonoros e afetivos – opera como elemento fundamental na escuta do inconsciente. As vinhetas analisadas evidenciam que a voz pode sustentar o desejo, instaurar ressonâncias entre analista e paciente e constituir-se como suporte para a emergência da transferência. Silêncios, balbucios, repetições e musicalidades não convencionais aparecem como formas expressivas que favorecem o encontro clínico e possibilitam o surgimento de uma fala singular. A voz, nesse contexto, não é apenas veículo de significação, mas meio de afetação e inscrição subjetiva. Além disso, destaca-se que a formação do analista também passa por sua capacidade de escuta – uma escuta que se afina com o ritmo do outro, sustentada pela transferência e marcada por um ponto surdo diante do objeto a. Assim, mais do que responder à pergunta inicial –Quais as implicações da musicalidade da voz em relação à transferência na clínica psicanalítica? –, este estudo busca delinear possíveis caminhos de investigação entre diferentes campos do saber, sem a pretensão de esgotar o tema. Ao contrário, procura lançar novas perguntas e indicar conexões que possam inspirar futuros estudos sobre as interfaces entre voz, música e subjetivação na clínica psicanalítica.
rtografado, houve nesse trabalho a tentativa de reunir incidências da dimensão musical da voz na clínica psicanalítica que se direcionam a promover articulações entre o campo musical, a voz e a psicanálise. Para isso, priorizou-se os aspectos voltados à musicalidade presente na voz e sua relação com a transferência. Na metodologia adotada, optou-se pela pesquisa de cunho qualitativo e exploratório, utilizando-se do método psicanalítico. Participaram da pesquisa cinco psicanalistas, que foram entrevistados por meio da plataforma do google meet. O problema condutor do estudo foi: Quais as implicações da musicalidade da voz frente à transferência na clínica psicanalítica? À questão, surgiram diferentes relatos dos entrevistados que apontam possíveis cartografias da voz na prática clínica. Na primeira seção, a voz desponta como meio de sustentação do desejo, tanto na relação paciente-analista como para a estruturação psíquica da paciente. Ecos e ressonâncias denunciam os efeitos que passam a surgir nos caminhos da análise na segunda vinheta, que apresenta a produção da voz como compositora de um encontro entre paciente e analista. Desse encontro, na terceira seção, a transferência convida analista e paciente a dançarem conforme a música que é composta entre a alternância de sons, ritmos e palavras. Da música da palavra, a voz, na quarta seção, se apresenta como a possibilidade de uma escrita que permite um dizer sobre a própria história. Por fim, as marcas na formação de um analista que precisa estabelecer um ponto surdo frente ao objeto a como mais-de-gozar, constituído pela transferência com o primeiro analista, para poder ouvir apenas a musicalidade da voz da analista, que o convida a advir.