Entre o desamparo e a perfeição: notas sobre o narcisismo primário e a formação de ideal em Freud
DOI:
https://doi.org/10.69751/arp.v11i21.4238Keywords:
narcisismo primário, desamparo, ideal do Eu, Freud.Abstract
No presente artigo, discutirei a questão da formação de ideal na teoria freudiana a partir da investigação do narcisismo primário e de sua relação com o estado de desamparo biológico e psíquico da criança. Desde o narcisismo infantil, tanto as pulsões do Eu, quanto as pulsões sexuais não autoeróticas demandam objetos externos, o que requer o auxílio do outro, considerando a condição de extrema dependência experimentada pelo ser humano no início de sua vida. Essa condição, por sua vez, revela a presença precoce da alteridade na manutenção da suposta completude desfrutada no narcisismo. Isto posto, sustentarei que a situação psíquica do Eu que se ama e se basta remete, em última instância, a uma ilusão de autossuficiência e investigarei quais as consequências desta constatação para a formação do ideal do Eu, entendido como um substituto do narcisismo perdido da infância. No limite, tentar fazer com que o Eu corresponda ao ideal significa buscar retornar a um estado ilusório, em que haveria uma autonomia apenas aparente. Por fim, pretendo tocar no problema do tratamento psicanalítico, tal como é concebido por Freud, com o intenção de sugerir que se, por um lado, ele só pode assumir a direção de rebaixamento do ideal do Eu do analisando, já que o antigo estado de perfeição narcísica que se almeja alcançar por meio do ideal sequer existiu, por outro lado, isso não implica em uma renúncia completa ao ideal, levando em conta sua capacidade de movimentar a vida psíquica adiante.