A ética política da harmonia: uma teoria neo-humiana da sociedade

Autores

  • Kim Noisette

Resumo

Resumo: Hume conceitua a justiça como criação após o conceito de propriedade privada. Críticos da teoria humeana da justiça, como Albert Hirschmann (As paixões e os interesses, 1977), veem essa teoria da justiça como uma justificativa “burguesa” do capitalismo. Contudo, essa crítica não vê que a propriedade é meramente uma resposta às necessidades humanas para que o objetivo não seja a propriedade, e sim outra coisa: a harmonia social. Basicamente, a palavra “harmonia” designa uma sociedade onde as pessoas confiam umas nas outras, sabem o que os outros precisam e podem fornecer um grau suficiente o comportamento dos outros. O contrário da harmonia é a desconfiança, quando os atores sociais começam a pensar que os outros vão tentar enganá-los e roubá-los, o que torna as relações difíceis e destrói diretamente a qualidade da vida. Como pensador político e econômico, Hume se pergunta como a sociedade pode avançar durante a história e ao mesmo tempo manter e melhorar a harmonia das relações interpessoais. Uma sociedade perfeitamente harmônica pode fazer a síntese dos interesses de cada ator, tornando cada um em protagonista em vez do antagonista que ele seria em uma sociedade de desconfiança. Mas se aceitarmos a teoria de Carl Schmitt, de que a política é definida pelo conflito entre ao menos dois grupos, como é possível buscar a harmonia? A sociedade que Hume estava buscando, poderia ser definida como uma sociedade sem política? Também, cabe perguntar se o objetivo coletivista da harmonia não chega a uma redução drástica dos direitos individuais. Com os textos morais e políticos de Hume (Tratado da Natureza Humana, Investigação sobre os princípios da moralidade e os Ensaios), vamos ver como é possível responder a esses problemas e qual estatuto é possível dar à harmonia social no interior da teoria dele. Vamos também examinar como, à luz da teoria dos jogos contemporâneos, o objetivo da harmonia social poderia ser uma inspiração pela ética política dos dias atuais. Mais doce que o Estado Leviatã de Hobbes, entre o deontologismo de Rawls e a teoria frequentemente sacrificante do utilitarismo, a ética politica humeana da harmonia social dá uma resposta prática aos problemas de coordenação justa e produtiva dos atores sociais.

Palavras-chave: David Hume; Tratado da natureza humana; Coordenação; Harmonia social, Crescimento econômico; Conflito político

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Publicado

2017-06-09

Como Citar

Noisette, K. (2017). A ética política da harmonia: uma teoria neo-humiana da sociedade. Revista Estudos Filosóficos UFSJ, (15). Recuperado de http://seer.ufsj.edu.br/estudosfilosoficos/article/view/2063

Edição

Seção

Artigos